quinta-feira, outubro 26, 2006

Palavras de poetas (# 04)


«Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, mas quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.»

Fernando Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Belo texto. Grande Pessoa.

Bem antes dele, mas sem esta riqueza, disse Nodier:

"O maior dos crimes é matar a língua de uma nação com tudo aquilo que ela encerra de esperança e de génio"