segunda-feira, outubro 30, 2006
A culpa morreu solteira (# 02)
«Solteiríssima
Jorge Coelho não tem apenas razão quando lamenta que a culpa tenha morrido solteira no desastre de Entre-os-Rios. Jorge Coelho tem também uma autoridade moral e política que lhe assiste mais do que a qualquer outra figura directa ou indirectamente relacionada com este caso. Foi ele que, na noite da queda da ponte, se demitiu de ministro das Obras Públicas declarando exactamente que a culpa não podia morrer solteira. Essa decisão, igual à que qualquer ministro escandinavo tomaria por muitíssimo menos, foi uma decisão honrosa, embora alguns a tenham criticado na altura. E, como a demissão de um ministro é um acto político relevante, devia ter servido de estímulo especial ao apuramento sério e exigente das responsabilidades, primeiro no âmbito do próprio Estado e depois no plano criminal, se houvesse fundamento para isso. À força de procurar culpados não se podem condenar inocentes. Mas se a impunidade do Estado e dos seu agentes é total quando dezenas de pessoas morrem a atravessar uma ponte que está à sua guarda, imagina-se o que não será em casos de menor gravidade. E, sobretudo, de menor visibilidade.»
(Fernando Madrinha, in Expresso, 1º Caderno, 28 de Outubro de 2006 [ed. electrónica]
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