Entrevista na RTP1
Sócrates diz que não se sente “fragilizado” com polémica sobre o seu percurso académico
jornal PÚBLICO,12।04.2007 - 00h23, Ricardo Dias Felner
Na entrevista à RTP para responder à polémica sobre o seu currículo, o primeiro-ministro admitiu que a existência de dúvidas era legítima.
No momento escolhido para se “defender” das notícias publicadas nas últimas três semanas sobre o seu percurso académico, José Sócrates afirmou que a polémica que o envolveu não o perturbou.“Não me sinto nada fragilizado”, disse o primeiro-ministro, na entrevista emitida ontem à noite pela RTP.Questionado sobre se sentia bem na “pele de primeiro-ministro”, Sócrates respondeu estar “perfeitamente à-vontade”, citando depois o lema de vida de Sousa Franco, uma frase de Horácio: “Quem teme tempestades acaba a rastejar.” Ora, disse o primeiro-ministro, “eu não temo tempestades”.A declaração foi feita após mais de meia-hora de explicações sobre as falhas no processo curricular de Sócrates publicadas no PÚBLICO e no “Expresso” dos últimos dias.O primeiro-ministro começou por justificar a razão pela qual só decidiu agora falar sobre o caso, explicando que preferiu que terminasse a inspecção realizada na Universidade Independente, instaurada pelo Ministério do Ensino Superior na sequência da luta de poder que rebentou naquela instituição no fim de Fevereiro.José Sócrates salientou, a esse propósito, ter feito prevalecer “aquilo que devem ser as responsabilidades do primeiro-ministro”, em detrimento da sua própria imagem pessoal, marcando depois o fim do silêncio: “Chegou o momento de me defender”, frisou, reconhecendo mais à frente: “Percebo que houvesse muito gente com legítimas dúvidas”.Todos os diplomasO chefe do Governo começou depois a indicar todas as suas habilitações, revelando documentos relativos à conclusão do bacharelato em Coimbra, às cadeiras que frequentou no curso do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), à licenciatura na Universidade Independente (UnI) e a um MBA no ISCTE.Na sequência dessa exposição, questionado por quatro vezes sobre as razões que o levaram a transferir-se do ISEL para a UnI, José Sócrates apresentou três razões: o ISEL dava equivalência a uma licenciatura enquanto o curso da Independente era uma licenciatura; a Independente “era perto do ISEL”; e a Independente “apostava no regime pós-laboral”.O curso que José Sócrates frequentou no ISEL tinha, também, um regime pós-laboral. A licenciatura na UnI ia então apenas no segundo ano, não possuindo ainda prestígio.O primeiro-ministro insistiu depois na negação de que terá sido favorecido na UnI. Para tal, deu como exemplo o requerimento que consta do seu “dossier” naquela universidade, em que pede para ali ingressar, e que data de 12 de Setembro, quando Sócrates era deputado do PS. No seu entender, este facto “destrói por base a ideia de que foi o processo pensado para alguém que era membro do Governo”.Relativamente ao certificado de habilitações do ISEL, entregue após 8 de Julho de 1996, quando Sócrates já estaria a terminar o seu ano lectivo na UnI, o primeiro-ministro admitiu que o reitor aceitou a sua candidatura presumindo “a sua boa fé” e alegou que o atraso foi da responsabilidade do ISEL.Culpas foram para a UNIPor sua vez, sobre o facto de quatro das notas da UnI terem sido lançadas em Agosto, o primeiro-ministro disse que “um aluno não é responsável pelo funcionamento da UnI”, presumindo depois, no entanto, ser normal os professores fazerem-no. Sócrates acrescentou não ter concluído nenhum exame nesse mês, mas “muito antes”.O primeiro-ministro salientou que fazia parte de uma turma “especial”, criada por alunos oriundos de outras instituições, para explicar a razão pela qual o seu professor de Inglês Técnico, o reitor Luís Arouca, não terá sido o regente dessa cadeira do curso de Engenharia Civil.Na sequência dessa resposta, justificou ter feito só cinco cadeiras por indicação da Independente. “Fiz as cadeiras que a UnI disse que devia fazer”, frisou, aduzindo ter frequentado as aulas “com esforço”, embora não fosse “a todas”.Quatro dessas cadeiras surgem como tendo sido leccionadas por António José Morais – uma coincidência que José Sócrates refutou estar relacionada com o facto desse docente ser do PS e ter sido nomeado para cargos de direcção durante os dois últimos governos socialistas.Sobre a sua competência, o primeiro-ministro elogiou “o nível de habilitações” do professor, mas, questionado sobre processos disciplinares instaurados contra ele, respondeu: “São notícias, li isso nos jornais.”Sócrates empunharia ainda recibos para atestar o pagamento de propinas. E, sobre o facto de ter usado como forma de se despedir, numa carta ao reitor Luís Arouca, antes de ter aulas na Independente, a expressão “do seu José Sócrates”, garantiu que “costuma sempre terminar as cartas desta forma”.Perguntado depois sobre a Biografia dos Deputados, em que aparece como “engenheiro civil”, Sócrates disse existirem dois documentos que estiveram na origem desse livro. Mas sublinhou: “Não me lembro disso. Foi há 14 anos.”
quarta-feira, abril 11, 2007
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