sexta-feira, abril 06, 2007

SÓCRATES E A LIBERDADE DE IMPRENSA

O diploma e a liberdade de imprensa
Já não basta a Sócrates mostrar os diplomas para acabar com o que diz ser uma campanha de boatos e ataques pessoais.

Editorial do jornal Expresso, de 5 de Abril de 2oo7

O diploma de José Sócrates ameaça tornar-se o seu caso Lewinsky, minando a credibilidade do primeiro-ministro, afectando a acção do Governo, condicionando a recuperação económica e mudando as expectativas positivas dos «animal spirits» que se vinham constatando desde que o líder do PS se instalou em São Bento.

Os últimos desenvolvimentos mostram o desnorte que se instalou no gabinete do primeiro-ministro. Por exemplo, na nota oficial distribuída no sábado afirmava-se que Sócrates tinha uma pós-graduação com MBA em gestão de empresas pelo ISCTE e nada se dizia de uma pós-graduação em Engenharia Sanitária na Escola Nacional de Saúde Pública. No portal do Governo, contudo, desapareceu a primeira e só aparece a segunda.

Sócrates teria acabado com a polémica se, quando ela estalou, mostrasse os diplomas. Mas, ao deixar arrastá-la, está agora numa situação em que já não lhe basta fazer isso. Só uma investigação independente, que tenha acesso a todos os documentos, pode clarificar a forma como o primeiro-ministro obteve o seu diploma da UnI.

E não é através de telefonemas “furibundos” de Sócrates ou dos seus assessores para as redacções que o assunto se resolve. Mas também convém lembrar que pressões de primeiros-ministros, de ministros e de assessores sobre jornalistas sempre houve e haverá, enquanto existirem políticos e órgãos de comunicação social. Dizer que devido a estes telefonemas está em causa a liberdade de imprensa já releva de alguma paranóia persecutória, como aliás prova o facto de a história do diploma de Sócrates estar a ser falada há já bastante tempo na Net e desde há duas semanas investigada no ‘Público’ e no Expresso.

A nova lei de imprensa, o novo estatuto do jornalista e a forma como a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) entende a sua missão ameaçam muito mais a liberdade de imprensa do que os telefonemas “furibundos” do primeiro-ministro. E pressões a sério são as de empresas e empresários. Quando se zangam, asfixiam um jornal, uma rádio ou uma televisão, cortando a publicidade ou as assinaturas. Os políticos, felizmente, não têm esse poder.





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