Soneto de identidade
"Chamo-me Pedro, sou Silveira e sou
também Mendonça: um tanto duro, como
Pedro é pedra; picante agudo assomo
de silva dos silvedos — não me dou
Raiz flamenga, já se sabe; e um gomo,
no fruto, castelhano. E assim bem pou-
co, pois, que doce me passara à ou-
tra pátria (língua?) que me coube e tomo.
Ainda Henriques (alemão? polaco?)
e outros cognomes mais: espelho opaco
de errâncias várias, que mal sei (desfaço,
talvez por isso, no que faço.) Ilhéu
da casca até ao cerne — e lá vou eu,
sem ambição maior que o livre espaço".
Pedro da Silveira, em Poemas ausentes, O Mirante, 1999: 14
(os nossos vizinhos do lado publicam post sobre este grande poeta florentino; o Boletim Municipal das Lajes do Pico dedicou-lhe em 2004 [nº 11] uma recensão, «O último porto da memória», por Inês Dias, republicado na revista Magma [nº 1], na Separata com textos daquela autora: «À Flor do Mar», Lajes do Pico, Dezembro de 2005)
terça-feira, novembro 14, 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
BURGO
O homem chegou à porta da loja
e olhou as nuvens correndo no céu
(Virá vento? Não virá?)
Depois,
ficou mais uns minutos
seguindo o passeio do doutor delegado
e espiando as janelas que dão para o largo.
Detrás de uma vidraça
um vulto assoma por instantes.
Lentamente
um carro de bois
passa na rua.
Sob os plátanos da praça
os funcionários de fora da ilha bocejam chatice.
O Sr.Laureano volta para o balcão
limpando as mãos no guarda-pó de alpaca.
...Amanhã
em todas as lojas,
em todas as tendas da vila,
mais uma história de amores ocultos
irá contar-se
de boca em boca.
Pedro da Silveira
"A ILha e o Mundo"
Enviar um comentário