O adeus ao poeta surreal
Alexandre Costa
Várias figuras de Estado e da Cultura portuguesa têm marcado presença nas cerimónias fúnebres. O poeta e deputado socialista, Manuel Alegre, qualificou Cesariny como “um homem livre”, “um dos maiores portugueses de sempre” com “uma voz única que ficará para sempre na História”. Na sua mensagem de condolências à família, o Presidente da República, Cavaco Silva, disse que Cesariny foi “um dos nomes cimeiros da cultura portuguesa no século XX”. A Câmara de Lisboa anunciou que irá dar o seu nome a um equipamento cultural relevante.
Mário Cesariny de Vasconcelos, nascido em Lisboa a 9 de Agosto de 1923, de pai beirão e mãe castelhana, foi sobretudo conhecido pela sua obra poética, mas foi também romancista, ensaísta e pintor.
Da sua extensa obra literária destaca-se o trabalho de antologista, compilador e historiador (polémico) das actividades surrealistas em Portugal, sendo também a sua obra poética considerada um dos mais ricos e complexos contributos para a história da poesia portuguesa contemporânea.
Entre as suas inúmeras obras, destacam-se títulos como "Corpo Visível" (1950), "Manual de Prestidigitação" (1956), "Pena Capital", "Nobilíssima Visão" (1959), "Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito" (1961), "A Cidade Queimada" (com arranjo gráfico e ilustrações de Cruzeiro Seixas, 1965), "Burlescas, Teóricas e Sentimentais " (1972), "Primavera Autónoma das Estradas" (1980), "O Virgem Negra. Fernando Pessoa Explicado às Criancinhas Nacionais Estrangeiras por M.C.V." (1989) e "Titânia" (1994).
Em 2005 foi distinguido com o Grande Prémio Vida Literária APE/CGD e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
REACÇÕES
“O último representante da plêiade de grandes poetas portugueses que marcaram o século XX”.
Fernando Cabral Martins, escritor e professor de Literatura“Extremamente subversivo”, escrevia “com uma grande clareza e delicadeza, que não ocultava por vezes uma grande violência”.
Baptistas Bastos, jornalista e escritor“Um príncipe” com uma “absoluta nobreza de carácter”.
Bernardo Pinto de Almeida, poeta, professor e critico de arte“Um homem que não receava enfrentar os códigos. Um espírito livre, que sofreu mesquinhez que abunda na sociedade portuguesa, com a intolerância política e a rigidez moral”.
Arnaldo Saraiva, professor de Literatura"Um surrealista vital", com uma vida feita de "insubmissão, desassombro e risco".
José Manuel dos Santos, amigo de Cesariny“Viveu a vida como uma oportunidade única, ao mesmo tempo com riso e desdém”.
Manuel António Pina, poeta e cronista"Lisboa perdeu um dos seus grandes cultores", marcado pela "inquietude criativa".
Carmona Rodrigues, presidente da Câmara de Lisboa
Jornal Expresso, 27 de Novembro de 2006
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