segunda-feira, setembro 04, 2006
Separar o trigo do joio
No tempo dos grandes repórteres, alguns ainda vivos - como Baptista Bastos ou Adelino Gomes, apenas para citar dois dos mais conhecidos - os jornais tinham "grandes reportagens". Curiosamente, nunca eram "imparciais", pelo contrário: tinham um ponto de vista (forte) e os jornalistas sabiam defendê-lo: davam aos leitores uma panorâmica do que viam/viviam, com argumentos, com inteligência, com excelente escrita. A sua verdade poderia muito bem ser, assim, a verdade de muitos. E, nesse sentido, eram honestos - porque procuravam a verdade. Nunca poderiam, como muitos fazem hoje, iniciar uma reportagem com frases do tipo "tal coisa não prestava" e daí para a frente, partindo de uma falsa premissa e nunca defendida, limitarem-se a uma (paupérrima) "apresentação" de alguns "factos". Se acrescentarmos que, hoje, o fazem com um português pouco elegante e recheado de lugares comuns o panorama ainda fica mais triste - para todos nós, que somos a razão de ser do jornalismo, e não porque certos jornalistas querem estar bem com os patrões do seu partido/jornal. Infelizmente, temos de fazer esta aprendizagem: quando lemos um jornal é preciso exercitarmos a nossa capacidade de separar o trigo do joio. Às vezes o trigo escasseia, paciência... fazemos umas palavras cruzadas.
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