Na edição de ontem (7 de Setembro) de O Dever, José Augusto Soares, publica mais uma prosa acertada (Quando a Lagoa parou, página 9), desta vez sobre a actuação da Orquestra Sinfónica Juvenil na Semana dos Baleeeiros deste ano. Transcrevemos aqui integralmente o artigo, com a devida vénia:
Já era noite, a 22 de Agosto. De repente, a mãe castanheta que, junto à muralha do Caneiro, comandava o pequeno grupo de filhas, parou. As mais novas seguiram-lhe de imediato o exemplo. Viraram-se para terra, na direcção da Pesqueira. Extasiadas.
Imobilizados ficaram também sapos, bolarentas, parguinhos e quejandos. Em silêncio. Até os pequenos barcos de pesca ou recreio viraram as proas na mesma direcção, e os inesperados patos encolheram-se e deitaram-se, enlevados.
Toda a lagoa escutava.
Primeiro Haydn, na sua Sinfonia nº 99, composta em 1793, após umas palavras de apresentação feitas a preceito pelo brilhante maestro Christopher Bochmann, à frente da categorizada Orquestra Sinfónica Juvenil. A música encheu o espaço, tradicionalmente habituado à faina do mar, e portanto pouco dado a classicismos, por muito musicais que sejam. O recinto não estaria cheio, mas muitos puderam desfrutar destes momentos, e não erraria se me atrevesse a dizer que pela primeira vez, em alguns casos. Os aplausos não eram de circunstância, como acontece fastidiosamente em muitas ocasiões, mas sinceros, exprimindo gratidão e apreço. Os apreciadores viam concretizado um seu desejo antigo de poder assistir, naquele local, à divulgação da música dita clássica, massacrados que estavam os seus pobres ouvidos por anos de “bombardeamento” por ensurdecedor “batuque”... Nos intervalos, breves, os peixes trocavam entre si olhares de surpresa e júbilo, pois também eles perceberam que se estava a fazer “História” nessa noite.
A “Semana dos Baleeiros” percebera que o público não é só composto por jovens adeptos do barulho e de algumas bebidas alcoólicas, e que também se dirige a quem tem da música um outro entendimento.
E chegou Mozart. Que dedicou a Haydn seis quartetos de cordas em 1785, tal a sua admiração por este, no que foi correspondido pela afirmação de Haydn relativamente ao grande Amadeus: “O maior compositor que conheci”.
Na minha modesta opinião, se Haydn tinha sido magnífico, com Mozart a Orquestra ainda conseguiu um patamar superior. Sublime!
O tempo pareceu voar, tal o grau de atenção com que a execução foi seguida, e quando o final chegou, demos por bem empregue aquele bálsamo de categoria e perfeição.
As condições acústicas poderiam ser melhores, mas até isso foi bem compensado e rapidamente esquecido. Era importante, mas não o essencial.
As castanhetas deitaram as filhas, e todas sonharam com os acordes acabados de ouvir.
Consta que a própria Montanha aplaudiu. De pé.
sexta-feira, setembro 08, 2006
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