«O mundo académico está cheio de golpes baixos»
José Mattoso
Filho de um monárquico e salazarista, José Mattoso encabeçou um abaixo-assinado contra o programa «Os Grandes Portugueses». A vitória de Salazar entristeceu-o.
Durante 20 anos foi monge beneditino. Trocou o hábito pela vida secular porque não encontrou no mosteiro espaço para a meditação. Casou por duas vezes e ocupou cargos de destaque como a vice-reitoria da Universidade Nova de Lisboa ou a direcção da Torre do Tombo. Trocou as honrarias pela vida simples. No silêncio encontra o essencial de si próprio. Isolado nas cercanias de Mértola vive de forma modesta. A casa que habita foi refúgio de pastores. O edifício da vacaria alberga a sua biblioteca pessoal. Acabou de doar tudo, casa, terreno e biblioteca ao Campo Arqueológico de Mértola. Aos 74 anos e debilitado fisicamente, José Mattoso reconhece que foi um homem de sorte: «Encontrei bons amigos e tive uma família que gostou muito de mim.»
Encabeçou um abaixo-assinado contra o programa da RTP, «Os Grandes Portugueses». Como é que avalia o resultado?
Fiquei muito triste. Tudo isto mostra a falência do ensino em Portugal e a incapacidade que o regime democrático teve para transmitir ao povo português os princípios fundamentais de uma sociedade responsável. Durante a nossa história encontrámos sempre modelos positivos. Tivemos orgulho do nosso passado. Hoje não nos identificamos com os nossos chefes. Temos vergonha do presente e escolhemos como grande português um contabilista, um ditador, que nem sequer teve a envergadura de um Mussolini.
Mas o facto de Salazar ter ganho com uma larga diferença, não significa que os portugueses estão a exorcizar alguns dos seus fantasmas?
É acima de tudo uma forma de o povo português dizer que não está satisfeito, que se sente frustrado com os dirigentes que teve depois do 25 de Abril.
E que se sente desiludido com a democracia?
Sim. E que se sente descontente com a situação actual. Encontraram aqui a forma de exprimir a sua insatisfação.
Mas o resultado representa a forma de sentir do povo português?
Revela a perpetuação da mediocridade. Salazar surge como uma espécie de Messias, uma personagem capaz de resolver os problemas. Não nos sentimos bem, não era isto que esperávamos da democracia. Precisamos de um chefe novo, então escolhemos um messias. É a mesma reacção que tivemos durante o período filipino com a figura de D. Sebastião. Hoje as pessoas projectam no Estado Novo questões como segurança, estabilidade ou a resolução dos seus problemas, e encontram na figura de Salazar a salvação.
É verdade que a sua ida para Timor, em 2000, também foi uma forma de protesto contra a sociedade materialista?
Sim. Vivemos numa sociedade muito egoísta, materialista, em que se valoriza o ter. Precisava de me afastar desta realidade. Senti muitas vezes necessidade de me ausentar. Mas não é uma fuga.
É uma purificação?
Sim. É uma tentativa de encontrar o essencial dentro de mim mesmo. Parece-me que este é o ponto de partida para uma contribuição na realização de um mundo melhor. Espero que algumas pessoas reflictam sobre os meus actos.
Mas não é um acto egoísta?
É uma questão de crença. É um acto muito exigente. O monaquismo, que começa com os eremitas do deserto no século IV, criou um movimento de ruptura com a sociedade. Se a pessoa que se recolhe ao isolamento concentra todas as suas energias e inteligência na procura de Deus de uma forma radical e acredita que Deus é aquele que preside à vida humana, Ele orientará e salvará a Humanidade. E portanto o que é bom para um poderá ser bom para todos, dado que o Bem alastra de uma maneira misteriosa.
Faz estes retiros com muita regularidade?
Não.
E são solitários?
Nem sempre. Gostaria de o fazer. Mas não tenho tido coragem para isso.
O silêncio é para si muito importante. O que é que procura no silêncio?
A certeza das coisas. No silêncio encontro a simplificação, a essência das coisas, a sua pureza e simplicidade. É por isso que estou aqui, neste monte. Gosto deste isolamento, da paisagem árida, não cultivada, de geração espontânea.
Quando foi para Timor disse que não continuaria a fazer investigação e que se iria dedicar a dar testemunho da sua própria vida. Não cumpriu. Foi responsável pela biografia de D. Afonso Henriques para o Círculo de Leitores.
(Risos) O meu propósito era esse. Fui com uma equipa de voluntários, onde se incluía a minha mulher, para uma acção de apoio em Timor durante as férias de Verão. Fui responder a uma solicitação da ONU para trabalhar os arquivos, que estavam num depósito, uma autêntica lixeira, no sótão do Palácio do Governador, que era preciso salvar. Estava em Timor quando morreu o dr. Luís Kruss, meu assistente e grande amigo, o historiador responsável pela biografia de D. Afonso Henriques. Pediram-me que o substituísse.
Foi para Timor por três meses. Ficou cinco anos e escreveu o livro «A Dignidade de Konis Santana e a Resistência Timorense.»
Com os materiais que encontrei no arquivo da Resistência percebi que podia fazer a sua história. Foi isso que fiz sob a forma de biografia de Konis Santana.
Escreveu a história da Resistência Timorense a partir de um guerrilheiro que dirigiu a luta no período em que Xanana Gusmão esteve preso. Por que é que personalizou a história do movimento?
Qualquer outra perspectiva tinha de ser ainda mais parcial em relação a todos os sectores e contradições que existiram dentro da Resistência. Por isso escolhi uma personagem importante mas que já tinha desaparecido. E o Konis foi das personalidades menos contestadas dentro da Resistência.
Mas o facto de ter entrado no esconderijo onde Konis Santana morreu e ter encontrado os baús com a sua documentação também ajudou?
Sim. Ali encontrei muita documentação pessoal. Textos, notas autobiográficas, discursos, correspondência. O Konis tinha a preocupação de guardar até as cópias das suas próprias cartas. Tinha ali informação suficiente para retratar bem o perfil daquela personagem.
A dignidade é uma palavra-chave naquela obra. Impressionou-o o porte vertical dos timorenses ?
Sim. Foi um povo que manteve a dignidade apesar da violência que sofreu às mãos dos indonésios. Voltou a receber os portugueses de braços abertos. Pouco tempo depois de eu chegar a Timor, realizou-se em Díli um colóquio e o dr. Ramos-Horta pediu-me para fazer uma comunicação sobre a identidade nacional. No debate que se lhe seguiu perguntaram-me se a dignidade era importante para a identidade nacional. A dignidade é muito importante para a construção de uma identidade, quer pessoal, quer nacional. O conceito de dignidade colectiva faz com que um povo lute pela sua independência.
E os timorenses têm essa noção?
Sim. Têm dignidade não enquanto nação mas na estreita relação com a etnia a que pertencem, com a língua. Apesar de serem um povo humilde e de terem consciência disso, não se deixam atingir enquanto pessoas. No caso de serem confrontados respondem com violência.
Sentiu-se fascinado com aquilo que designou como a «miraculosa vitória da independência». Como vê a situação actual?
Escrevi isso antes da situação actual. Tudo o que aconteceu entristeceu-me muito e até me surpreendeu. Eu sempre tive a percepção de que não entendia os timorenses. Quando se conversa com eles nunca se percebe bem o que pensam, ocultam muito os sentimentos. Estava persuadido de que, obtida a independência, os timorenses seriam capazes de se entender e resolver os seus problemas.
Por que é que não se entenderam?
Parece-me que a justificação para a situação actual é que pessoas que obtiveram vantagens com a independência querem ter ainda mais e por isso agitam-se. Acho que os responsáveis pela instabilidade e pela violência podem ser guerrilheiros que tinham autoridade e agora não têm, podem ser pessoas que querem manter cargos que perderam com a saída da ONU, funcionários das ONGs que querem continuar a ser necessários. É difícil interpretar a situação actual, mas também não nos podemos esquecer de que os australianos querem o controlo e a exploração do petróleo e portanto não terão escrúpulos em incentivar a divisão. E é fácil provocar a agitação. Timor é um país com 18 línguas, com comunidades que sempre viveram em guerras umas com as outras. É fácil agitar aquela gente, sobretudo os jovens. Mas não esperava.
O que é que Portugal ainda pode fazer para ajudar aquele povo?
Continuar a investir no ensino do português e dar condições dignas aos grupos de professores que estão há anos por todo o território em situações verdadeiramente miseráveis.
A certa altura pensou ficar por Timor. O que o fez mudar de ideias?
Em Timor eu queria fazer algo de útil. A minha continuação passava pela aprendizagem da língua. Mas não sou muito dotado para aprender novas línguas. Para além disso tenho problemas de audição e o tétum é uma língua que vive muito da oralidade. O meu trabalho no Seminário Maior de Díli, onde dei aulas de História da Igreja, de História da Filosofia e de Introdução do Método Científico, também tinha terminado. E estava esgotado fisicamente. Tive que regressar.
O contacto directo com a tentativa de reconstrução de Timor reforçou a sua convicção de esquerda?
Sim. Mas a minha ideia de esquerda não é o Bloco de Esquerda. Dei uma contribuição ao partido e não a renego.
Mas desiludiu-se com o Bloco de Esquerda?
Publiquei um artigo, quando o Bloco de Esquerda nasceu, em que os comparava aos profetas do Antigo Testamento, que surgiram em protesto ao poder e ao excesso de poder. Esperava isso do Bloco.
Mas ainda se revê no partido?
Já não me revejo e não me sinto obrigado a ser um militante que apoia todas as suas iniciativas ou colabora nas suas estratégias ou orientações. Quando denuncia as coisas erradas estou com o Bloco, mas se resolve lutar pelo casamento entre homossexuais estou contra o Bloco.
No referendo sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez (IGV) esteve com o Bloco de Esquerda.
Não estive com o Bloco de Esquerda, estive pelo lado do Sim.
Como é que um católico, que já foi monge, estava a favor do Sim?
Primeiro que tudo é preciso respeitar uma certa sacralidade no processo da multiplicação da vida. Mas condenar a IGV em qualquer circunstância corresponde a subordinar o homem ao sábado, e não o sábado ao homem. A hierarquia da Igreja concentrou a sua estratégia na obtenção do Não. Se este lado vencesse, as mulheres continuariam a abortar, mas a Igreja já não tinha de se preocupar com isso. A responsabilidade seria delas. A isto chama-se hipocrisia.
Nasceu em Leiria em 1933. A leitura da biografia de São Francisco de Assis provocou-lhe o primeiro apelo místico. Mas antes de ingressar num mosteiro pensou em ser arquitecto.
Li esse livro com 12 anos e percebi que era aquilo que eu gostava de fazer. E pensei ir para o seminário. Mas o meu pai achou que não deveria ir em criança. Que era preferível fazer primeiro o liceu. Disse-lhe que, sendo assim, queria ser arquitecto. Mais tarde li sobre a vida monástica e aquela opção de vida tocou-me muito mais. Sentia-me mais atraído por uma vida de oração. Fui ao Minho e visitei o mosteiro beneditino de Singeverga. Fiquei uns dias, disse ao abade que queria ser beneditino mas que o meu pai queria que acabasse o liceu. O abade achou melhor entrar. Tinha 17 anos e não acabei o liceu cá fora.
Mas estudou lá dentro?
Estudei filosofia e teologia em Singeverga e mais tarde o abade enviou-me para a Universidade de Lovaina, na Bélgica.
Foram os dotes que revelou para a investigação que levaram os monges a encaminhá-lo para o curso de Ciências Históricas. É assim que descobre a vocação para a Idade Média?
O meu pai também tinha um grande apreço pela Idade Média. Era uma ideia um pouco romântica, em que se abordava a história do cristianismo. Foi a época áurea dos monges beneditinos. Se os queria estudar tinha que ser neste período.
O facto de o seu pai ter andado num seminário, ser admirador da monarquia e do regime salazarista e ter dois tios padres, influenciou a sua escolha pela vida monástica?
Sim. Venho de uma família muito religiosa e conservadora. O meu pai era uma pessoa muito boa, compreensiva e tolerante. Apesar do seu conservadorismo, tinha amigos comunistas e amigos republicanos. Era muito respeitador das diferenças dos outros.
Nunca questionou a sua escolha?
Nunca.
Incentivou-o?
Também não. Desde criança que respeitava as minhas opiniões. Dizia-me que deveria ser eu a encontrar o caminho para realizar as minhas virtualidades, as capacidades pessoais. E também fazia isso com os meus irmãos. Um é arquitecto, outro piloto da marinha mercante, outro médico, outro não estudou. Éramos oito filhos e sempre nos encorajou a escolher os nossos próprios caminhos. Todos nós, excepto o mais velho, fomos contestatários das suas opções políticas. Manteve-se monárquico até ao fim.
E salazarista também?
Não especialmente. Ele foi aluno de Salazar, estudou Direito em Coimbra. Considerava-o frio, implacável, sem consideração pelas pessoas, mas também achava que Salazar tinha feito uma boa obra na pacificação do País. Concordava com a ordem, as hierarquias, o favorecimento da Igreja, mas achou sempre que havia um favorecimento excessivo das pessoas sem personalidade. Nunca pertenceu à União Nacional.
No tempo que esteve em Lovaina, sente os ventos de mudança que sopram no meio católico, influenciados pelo Concílio Vaticano II. Quando regressa, tenta aproximar a vivência no mosteiro ao novo ideal católico. Mas não consegue e sai. Como é que se deu esta ruptura?
O Concílio Vaticano II trouxe a renovação teológica e da relação entre a Igreja e o mundo. Os teólogos pós-Concílio procuram encontrar uma via de encontro, um diálogo entre a Igreja e o mundo. Esta renovação não se fez sentir no interior do mosteiro. O regresso às origens implicava uma vida contemplativa. E isso pouco existia. Ainda fui para o mosteiro de Monserrat, em Espanha. No regresso, tentei persuadir o abade a autorizar um grupo de monges a formar uma comunidade pequena voltada para a contemplação, para a oração. Não foi possível e saí.
Ao fim de 20 anos de vida monástica envolve-se com os meios católicos progressistas e empenha-se em campanhas de alfabetização dos meios rurais. Conhece então a mulher com quem viria a casar.
Sim. Pedi a dispensa dos votos, que me foi concedida. Quando fui para Lisboa trabalhei activamente com o movimento de Reflexão Cristã, que não era bem visto no seio da Igreja por incluir leigos. Considerei sempre o seu trabalho positivo porque me pareceu que o pensamento católico e a teologia eram coisas importantes.
O Papa actual permitirá este encontro?
Ratzinger é um teólogo e do ponto de vista racional tem todas as possibilidades de entender isso, mas procura investir todo o seu conhecimento no apoio das linhas mais conservadoras e mais reaccionárias. Está convencido de que desta forma poderá manter a união da Igreja e evitar as heresias.
Tem três filhos. Algum deles abraçou a vida espiritual?
Todos eles praticam a religião católica, mas fazem-no numa atitude de liberdade que eu acho positiva. Participam nas cerimónias festivas como o Natal e a Páscoa.
Tal como o senhor.
Sim. A fé para nós é fundamental e estruturante na nossa visão do mundo e nas nossas atitudes, mas não somos praticantes assíduos.
Em 1987, uns dias antes de ser o primeiro galardoado com o Prémio Pessoa, faz um retiro numa aldeia da serra do Açor. Como é que geriu a fama dada pelo Prémio Pessoa?
Antes da atribuição do Prémio Pessoa tinha publicado a obra «A Identificação de um País», e creio que foi essa obra que me levou ao prémio e ao reconhecimento público da minha investigação. Sempre fui suficientemente realista para reconhecer as minhas limitações pessoais e intelectuais. Sempre soube que há valores muito mais importantes que o sucesso e que o fundamental no ser humano é ser fiel a si próprio. Ter ou não sucesso sempre foi, para mim, secundário.
Mas ficou contente com o reconhecimento?
Claro que fiquei. Mas o facto de o prémio ser atribuído numa altura muito especial da minha vida, em que estava num longo retiro, em grande isolamento, também contribuiu para não me deixar embalar com o sucesso social ou desempenhar papéis que não correspondiam à minha personalidade. O Prémio Pessoa tornou-me mais consciente das minhas responsabilidades.
Nunca se sentiu atraído pelo poder?
Não. Mas assumi cargos importantes no mundo académico. Um meio cheio de rivalidades, de intrigas, de golpes baixos.
A venda da «História de Portugal» foi superior à dos «best-sellers» de Margarida Rebelo Pinto. Como é que lida com o dinheiro?
(Risos) Na minha vida, posso dar graças a Deus por ter tido sempre mais do que o que precisava. Não tenho nenhuma fortuna. Quando ganhei o Prémio Pessoa perguntaram-me o que ia fazer ao dinheiro. Disse que dava para comprar um carro mas não dava para comprar uma casa. Foi depois do sucesso da «História de Portugal» que comprei este terreno, fiz as obras que nos permitem aqui viver e criar condições para trazer a minha biblioteca.
Tem consciência do seu contributo para o desenvolvimento da historiografia portuguesa?
Penso que sim. Mas não fui o único. Depois do 25 de Abril houve um progresso historiográfico e científico notável, resultante das condições gerais do País, do aparecimento de novas universidades e da possibilidade de se fazer investigação. Eu participei neste movimento mas ele foi muito maior do que o meu trabalho.
Lidera uma equipa responsável pelo tratamento da documentação dispersa do arquivo do Ministério do Ultramar. Está ali a história dos independentistas africanos?
Em parte sim. Há relatórios policiais. Há documentação sobre conversações internacionais. Não analisei a documentação, o objectivo não é esse. Estão ali documentos que não só interessam a Portugal, mas sobretudo aos países africanos e aos historiadores internacionais.
Quando os arquivos forem trabalhados haverá revelações surpreendentes?
Julgo que está ali documentação muito significativa para os movimentos independentistas e também para a história da política portuguesa nas colónias. O que importa é que poderá estar ali a resposta para algumas questões da história da colonização que não foram respondidas.
Como é o seu dia-a-dia neste ermo no meio do Alentejo?
Levanto-me cedo e mesmo antes de tomar o pequeno-almoço faço um pouco de ginástica. São uns exercícios chineses muito simples - chin-gu uma variante simples de thai-chi - que aprendi com um mestre malaio em Lisboa. Estes exercícios ajudam-me a ter um certo equilíbrio. Vou a Mértola ver o correio e o meu amigo Cláudio Torres. Também criámos uma relação especial com os pastores que vêm por cá com os rebanhos. Vejo alguns jornais na Internet mas não perco muito tempo com eles, são muito repetitivos.
Vê televisão?
Antes de ir para Timor não tínhamos televisão. Comecei a ver televisão lá, porque havia um grande isolamento cultural. Aqui vemos canais estrangeiros, sobretudo os alemães e o ARTE. Não vemos os nacionais. Sentimo-nos incomodados com a concepção que a televisão portuguesa faz das notícias e da informação.
Aprecia comida alentejana?
Sim. Mas prefiro uma comida simples, elementar, quase vegetariana.
Está a fazer alguma investigação?
Não. Penso que terminei o meu trabalho de investigação. Sinto que a idade é implacável e é preciso aceitar isso, sem dramatismos, com toda a simplicidade.
Já disse que gostaria de dar testemunho da sua própria vida. De que forma o pretende fazer?
Pela vivência. Tornou-se público que vim para aqui, para estar num sítio isolado. Mas não sei o que a vida me reserva. A Zé (actual mulher) tem uma casa perto de Albergaria-a-Velha, com outras acessibilidades. Morrerei lá, possivelmente.